Hoje acordei triste.
Teria como descrever os motivos (pelo menos aqueles que eu identifico), mas são muito pessoais. Mesmo não fazendo meu gênero, falaria disso apenas para pouquíssimas pessoas, porque poucas teriam paciência, de verdade, para ouvir. E, simplesmente, ouvir, sem julgamentos cruéis e desnecessários...
A tristeza chega às vezes por pequenas coisas e se agigantam, mas, graças a Deus, do mesmo jeito que chega, vai embora. A minha, ao escrever, começa a se dissipar.
O interessante é que quando me sinto triste avalio demais a minha relação com as pessoas as quais eu amo, e que fazem diferença na minha vida.
Existem pessoas nesse quesito que nunca deixaram de ser importantes para mim, mesmo quando eu deixei de ser para elas, mas eu dependo apenas da minha forma de ser e não da dos outros.
Portanto, caro leitor, se algum dia você ouviu de mim o quanto é importante para mim e o quanto eu te amo, fique certo: continua tudo do mesmo jeito aqui por dentro. Este é um cuidado que sempre tomei, o de falar sobre isso apenas para quem fosse verdadeiro.
Não me lembro de ter me decepcionado tanto com alguém, a ponto de não entender que aquele era o seu momento (o momento daquela pessoa), depois que minhas mágoas passaram (e passam).
Mas a minha avaliação sempre resvala para o meu lado mesmo. Como eu sou? Como eu ajo... Se meus atos são coerentes com meu discurso.
Não. Nem sempre. Procuro muito isso, mas confesso que tem horas que a vaidade fala mais alto e meu discurso é muito melhor que meus atos.
Talvez, exatamente por isso, posso ter deixado de ser importante para algumas pessoas. E, também às vezes, nem elas percebem mais o quanto desimportante me tornei para elas... (um dos motivos da minha tristeza de hoje).
Mas pode ser também que nos tornemos desimportantes porque nunca fomos, de verdade, mais do que um simples sonho numa noite de verão (apenas para me lembrar do autor, o que mais gosto, do texto que cito abaixo) para alguns que enxergam seu verniz, mas não conseguem olhar no âmago da sua alma.
Julgam. Não por sacanagem. Mas porque nós todos somos assim: perante nossa realidade, a realidade dos outros não faz o menor sentido; apenas a nossa e, mesmo assim, nem sempre ela mesma faz.
Sei que meu discurso é muito melhor que minha prática, mas quando penso o qual ruim podem ser minhas atitudes, lembro do velho Will, aí debaixo, com esse texto simplesmente sensacional.
Não sei qual tamanho eu tenho pra você, leitor, mas juro que tento agir de uma forma guiada pelo tamanho que eu gostaria de ter.
O tamanho das pessoas
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William Shakespeare |
Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento... Uma pessoa é enorme para você, quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado.
É pequena para você quando só pensa em si mesma, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade, o carinho, o respeito, o zelo e até mesmo o amor.
Uma pessoa é gigante para você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto com você. E pequena quando desvia do assunto.
Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês.
Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas.
Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.
É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações.
Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes. Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande...
É a sua sensibilidade, sem tamanho...
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